Projeto: Me conta um conto que eu conto.
Na década de 1950, as pessoas costumavam se divertir nas festas dançantes, tertúlias, reisados e cantorias que eram realizadas em comunidades rurais, principalmente nas casas das famílias.
Os meios de transporte motorizados eram quase inexistentes e as famílias com melhor poder aquisitivo possuíam animais como cavalos e burros, que eram utilizados para fazer os deslocamentos de pessoas e mercadorias de uma região para outra.
Naquele tempo, minha bisavó, chamada Maria Soares residia na Palmeira, comunidade rural do município de São Miguel do Tapuio. Ela era viúva e responsável pela educação dos filhos, entre eles o meu avô Antônio Soares, e embora tivesse mãos de ferro e muita autoridade, ela tinha muita dificuldade para manter a ordem e harmonia entre os filhos.
Certo dia, meu avô decidiu que iria para uma festa na comunidade rural Saquinho, situada a alguns quilômetros do lugar onde residiam. O dia estava turvo, nublado e devido a pressentimentos ruins, a bisavó resolveu que ele não deveria ir para aquela festa.
No entanto, apaixonado por uma bela moça da região, ele retrucou, enfrentou a mãe e disse que iria mesmo sem a sua autorização. Na saída, ela tentou segurar a burra pelo cabresto e foi atacada pelo animal, recebendo uma mordida em sua mão direita.
Apesar de toda a esquisitice daquela situação, e da mãe está sentindo dores por conta do ferimento causado pela burra, ele manteve a sua decisão e foi para festa. Segundo ele contava, aquela não foi uma noite boa. Além de todo o transtorno da saída também perdeu a namorada para outro rapaz.
Decepcionado com a situação, resolveu voltar para casa mais cedo. A noite estava escura e fria e só escutava o canto das cigarras e grilos na mata.
Na metade do caminho, perto de umas pedras que ficavam na margem da estrada, ele sentiu a presença de alguém e ficou todo arrepiado. Nesse momento, a burra se assustou e ele percebeu que uma pessoa pulou na garupa do animal, que passou a ter dificuldades para caminhar devido o aumento significativo do peso.
Sentiu os braços de uma mulher entrelaçando a sua cintura e o sussurro da respiração no seu cangote arrepiavam os pelos do seu pescoço lhe causando paralisia de tanto medo.
Em pensamentos começou a rezar e pediu intervenção divina para que aquele espírito pudesse encontrar luz e paz e se afastar de seu caminho. Também lembrou do que fizera a mãe e pediu perdão a Deus pela desobediência.
Quando já estava desanimando, achando que não conseguiria se livrar daquela assombração, sentiu que a pessoa soltou a sua cintura e pulou da burra. O animal respirou aliviado e passou a caminhar de forma mais leve, como quem acabara de se livrar de um grande peso.
Ele não teve coragem de olhar para trás, mas pressentia que ali estava uma moça cadavérica, de cabelos acinzentados, longos e afarofados, vestido longo, rasgado e sujo, alguém que como ele, um dia também perdeu um grande amor e com ele toda a esperança e o sossego da alma.
Narrado por Francisca Alves Melo.
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