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Foto do escritorraimundinhamelo

Olhando a infância pela janela de Cecília Meirelles

Cecília Meireles é umas das mais célebres escritoras e poetizas brasileiras. A riqueza verbal e espiritual de sua obra fazem com que seu nome seja poesia no sentido mais universal.

Um dos textos mais bonitos de Cecília é "A arte de ser feliz". Nele a poetiza faz referência a uma janela através da qual ela enxerga a felicidade nas coisas mais simples da vida como: crianças indo para a escola; pardais que pulam pelo muro, gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais; borboletas brancas que de duas a duas parecem refletidas no espelho do ar...

Todas as vezes que leio esse texto, relembro fatos da minha infância através da janela de Cecília Meirelles e essas lembranças me fazem perceber que tudo sempre esteve no seu lugar, cumprindo o seu destino e suscitando pequenos momentos de felicidade plena.

Em uma dessas lembranças vejo quatro crianças com os olhos fixos em uma estrada de terra, cuja areia é tão branca que faz reluzir cristais prateados. Seus olhos buscam com muita ansiedade enxergar o pai, que todos os sábados vai para a feira e mesmo com poucos recursos, reserva algumas moedas para comprar bombons e bolachas.

Os pequenos corpos franzinos, rajados pelo contato da poeira com o suor resultante do calor do Semiárido piauiense aguardam com muita ansiedade pelo fim da espera.

Entre uma brincadeira e outra, os pequeninos não tiram os olhos da estrada pois muito mais que guloseimas, ali vai aparecer alguém com o coração cheio de um amor doce, alegre e incomparável.

Já passam do meio dia, os olhos dos pequenos lacrimejam por conta do vento que levanta os minúsculos grãos de areia. O suor banha os corpos singelos e frágeis mas as crianças resistem firmemente embaixo de uma faveira numa espera espetacular e apaixonante.

De repente, um pequeno-grande homem aponta no final da estrada com um saco nas costas. Certamente, carregado com os mantimentos da semana, contendo também os bombons e as bolachas, mas muito mais que isso, traz consigo afetividade paterna no peito e compromisso na alma.

Entre os raios brilhosos do sol do meio dia e os cristais de areia branca, os quatro irmãos correm de braços abertos ao encontro do homem, gritando: - É o papai, é o papai, é o papai....

No encontro beijos, abraços, alegria e muita euforia, algo que denomino como felicidade plena, momentos únicos e inesquecíveis que marcam profundamente a nossa alma.

Como Cecília, eu me interrogo se apenas eu procuro relembrar esses momentos de felicidade através das brechas dessa janela, que me trazem essas lembranças, tão lindas que fazem meu coração se sentir completamente feliz.


Como ela, quando falo dessas pequenas felicidades e lembranças, que estão diante das janelas de cada um de nós, uns dizem que são coisas sem importância, outros que só existem diante das janelas de Cecília e outros que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim e se oportunizar reviver esses pequenos momentos de felicidade em que vivemos completamente feliz.


Raimundinha Melo

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