Em tempos de tantas perdas, agonias e problemas de todas as ordens é necessário manter acesa a chama da fé; um sentimento que significa confiança.
A fé exprime crença em algo ou alguém, mesmo quando não há nenhum tipo de evidência que comprove a veracidade da proposição em sua causa. Quem tem fé não tem dúvida; entrega e confia.
Não é fácil e simples ter fé, mas essa se traduz como uma das necessidades humanas para não cair em desespero. Toda vitória, conquista, superação e milagre começa por esse sentimento indescritível. Ela também é indispensável nos momentos de perdas e horas de desespero.
Em diálogo com minha Vó Maria de Lourdes (in memoriam), ela narrou várias situações de sua vida onde a sua fé foi colocada a prova. Uma delas foi quando meu pai, que na época tinha apenas quatro anos de idade se perdeu em uma mata fechada.
Naquela época, a família passava uns dias numa comunidade rural chamada Chapada do Meio. Ela tinha três crianças pequenas, sendo o meu pai o primogênito. Meu avô, Raimundo Miguel (in memoriam) tinha ido para a roça com os trabalhadores e ela estava costurando e preparando o almoço.
Meu pai brincava no terreiro com dois primos que eram maiores do que ele, e que por traquinagem de crianças malinas correram atrás de uma vaca e entraram no mato.
A certa distância de casa, eles deixaram meu pai sozinho e disseram que iriam a casa do meu bisavô (Papaim), por quem meu pai era apaixonado. Nessa ocasião, o pequeno saiu a procura e adentrou na mata escura e fechada, sumindo repentinamente.
Passaram-se duas horas e a minha vó percebeu que ele não estava mais na companhia das outras crianças e imediatamente iniciou uma procura desesperadora por todos os lados, mas sem sucesso.
Decidiram chamar meu avô que juntamente com os trabalhadores e vizinhos iniciaram as buscas pelo mato. Não era fácil seguir a criança pelos rastros porque era uma mata fechada, com muitas folhagens e terreno por vezes pedregoso.
O desespero de uma mãe. Cada minuto parecia uma eternidade e pensamentos ruins passavam pela sua cabeça. Os riscos de seu filhinho ser atacado por animais carnívoros e peçonhentos, de cair em um abismo, de não ser encontrado, de está com fome, sede e machucado eram grandes. Ela precisava controlar os pensamentos negativos e de joelhos no chão rogou com muita fé e o entregou nas mãos do Senhor e confiou.
Uma procura desesperadora. No mato o pai da criança cortava caminhos, gritava o nome dele (Gonzaga) e corria por todos os lados antes que o pior acontecesse. Também já havia clamado pela ajuda de Deus e feito promessas. Passada algumas horas, ele encontrou um rastro de chinelo de couro de uma criança pequena que já estava com apenas um pé calçado; mas não teve dúvidas de que era o seu filho. Precisava acelerar os passos para encontrá-lo vivo.
Pequenas memórias. Em suas memórias meu pai lembra que correu atrás da vaca; pois sempre sonhou em ser vaqueiro como o pai dele. Depois sentiu saudades do avô e foi maldosamente incentivados pelos primos a entrar na mata e procurar a casa. Em pouco tempo se viu sozinho no mato, com medo, confuso, com fome e sede. Os espinhos feriam suas pernas, a terra quente queimava o pé descalço, chorava muito chamando a mãe e o pai. Depois de algum tempo encontrou um morro e ouviu gritos do pai que vinham lá de cima. Só pensava em encontrar alguém ou algo e não ficar mais sozinho.
O grande encontro. O pai encontrou o filho perdido a poucos metros de cair em um abismo. Depois de um caloroso abraço, o maior de toda a sua vida, se ajoelhou e agradeceu a Deus a oportunidade de devolvê-lo aos braços da mãe.
Uma grande lição. Com os olhos lacrimejando, minha avó me contou essa fantástica história real. Meu pai fez o relato dele em prantos de choro, ultimamente anda muito emotivo.
Questionei sobre como ela suportou o desespero e controlou os pensamentos ruins naquele momento e sabiamente ela me respondeu:
-"Se você tem fé, entrega a Deus e confia"
A fé fornece motivações internas não apenas para movermos a montanha, mas também para aprendermos a contorná-la quando a vontade de Deus não estiver em conexão com a nossa. Foi isso que disse Roberto Carlos quando perdeu Maria Rita para um câncer.
Isso não nos isenta de fazer a nossa parte, mas diante daquilo que não podemos mais interferir ou da necessidade de manter acesa a chama da esperança; precisamos ter fé.
Eu desejo profundamente que todos animem a sua fé diante das adversidades da vida.
Comments