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Foto do escritorraimundinhamelo

O sabor da independência feminina à luz do olhar de uma menina

Só quem é mulher e lutou a vida inteira pela sua autonomia pessoal e familiar conhece o sabor doce e azedo da independência feminina. Digo doce, pois não existe coisa mais saborosa do que ter seu dinheiro, comprar o que tem vontade se garantir em suas ações e decisões. Digo azedo, pois junto com a autonomia e independência você saboreia o azedume do acúmulo de funções, responsabilidades e decisões que precisa tomar todos os dias. Ainda assim, não me acostumaria com uma vida garantida de dondoca, pois sempre gostei muito de trabalhar, produzir e gerar riquezas, quiçá, produzir beleza.


Sim, eu trabalho em um salão de beleza, um dos mais movimentados da cidade. Todos os dias, a filha do meu salão amanhece com uma enorme quantidade de clientes que desejam ser atendidas. Especificamente, eu trabalho apenas com cortes, hidratação, penteados e outros procedimentos que não agridem os fios capilares. Sempre falo para as minhas clientes: - a beleza está nos aspectos naturais da estrutura do cabelo, não importa se o mesmo é cacheado ou liso, cabelo bonito é cabelo natural, tratado, valorizado. Ele parte essencial da identidade feminina.


Naquele dia estava prevista a realização de um grande evento cultural na cidade. Acordei cedo, preparei meu café da manhã, tomei banho, vesti uma roupa bonita e colorida como a vida e fui para o salão. De longe avistei a enorme fila de clientes a minha espera. Mulheres lindas, pois todas nós trazemos na alma uma beleza singular, cujo papel dos profissionais da beleza é apenas destacá-la, realçá-la.


Naquele dia, com certeza, o horário do almoço seria reduzido. Logo cedo olhei o estoque de produtos de beleza com o propósito de evitar qualquer imprevisto. Atendi uma, duas três, quatro, dez clientes. Pensei comigo, preciso parar um pouco, beber água, fazer um lanche para retornar o trabalho com mais coragem e criatividade.


A pressa é inimiga da perfeição e quem quer ser e ficar ainda mais bonita deve saber disso, por isso sugiro que as clientes relaxem, que leiam revistas, que assistam televisão ou que escutem músicas, mas elas gostam mesmo é de ouvir fofocas. E quando se juntam atualizam-se com as novidades que são socializadas de uma para as outras.


Com um olhar no peixe e o outro no gato eu atendo onze, doze, quinze clientes. Nessas horas faço as contas de cabeça e percebo que já dá pra pagar o aluguel do ponto, renovar o estoque de produtos e com sorte sobrará algum dinheiro para colocar na reserva.


Em meio a toda essa correria eu escuto minha mãe gritando na porteira da roça de milho verde: - Raimundinha, você está aí? Pare com essa brincadeira, menina! Venha logo tomar banho e almoçar, já está quase na hora de você ir para escola. E continua: - essa menina vive no eterno mundo das brincadeiras, você já é uma mocinha, não me dê trabalho e venha logo.



Pronto. Preciso deixar as clientes na mão mais uma vez. Desse jeito não tem negócio que se sustente. É como eu disse: a independência feminina tem um sabor doce e azedo. 🤭😎


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