No fim de uma tarde de inverno, quando o sol se punha no horizonte e a brisa da noite fria e serena anunciam a chegada da lua, minhas memórias perguntam para o meu coração sobre o que são as lembranças e por que elas, por vezes nos causam tantas alegrias e por outras enormes tristezas.
Meu coração, trincado pelas dores das perdas para sempre eternas, me disse que as lembranças são paraísos-perdidos onde reside a afetividade eternizada das pessoas que amamos e que sempre amaremos. Elas machucam quando lembram coisas ruins e mais ainda quando rememoram as coisas boas da vida, assim, se constituem como melhores e piores presentes.
Insatisfeita com a incompletude desta resposta, meus pensamentos percorrem pelos momentos mais marcantes e insistiu em perguntar sobre a razão de ser das lembranças. Foi assim que a emoção disse que elas existem, às vezes longe, às vezes perto e quase sempre presente para nos causar saudade e nos lembrar do inesquecível. As lembranças são a madruga das melhores sensações e as mais tristes recordações.
Ainda sem resposta, meu raciocínio entrou na conversa e querendo ajudar disse que as lembranças são necessárias, não apenas para lembrarmos do passado, não repetir erros no presente, mas para nos ajudar a determinar o futuro, pois quando não existem lembranças as memórias são apenas ilusões.
Confusa com inúmeras respostas, resolvi consultar minhas melhores lembranças, na esperança de que elas, refletindo sobre si e o nós pudessem fornecer informações mais simples e precisas sobre como conceituá-las, traduzindo-as nas emoções diversificadas, díspares e singulares.
As lembranças da infância me disseram que são a saudade da família, das brincadeiras, da leveza da vida, da doçura das frutas do mato e da afetividade materna e das avós. As lembrança da escola me falaram que expressam a algazarra do recreio e das canções preferidas, os segredos das amigas, o abraço carinhoso dos colegas, a admiração pelos melhores professores. As lembranças da juventude me afirmaram que são o gosto do beijo apaixonado, do abraço apertado, a emoção do encontro adiado, do amor proibido, do cheiro do amado.
Um poeta me disse que lembrança é o que temos para não morrer de saudade. Meu pai afirmou que é uma cristaleira carregada de porcelanas e retratos de deixados pela minha avó. Ney Forever assegura que são “as coisas boas da vida, não aquelas que duram para sempre, mas aquelas que deixam boas recordações”. Um deprimido falou que as lembranças são melhores do que qualquer realidade que ele vive hoje. Um sábio, que são a eternidade do pensamento quando aceitamos o fim das coisas.
Com tantas respostas, percebi que já era possível conceituar as lembranças como: memórias das alegrias e tristezas, causadas pelas afetividades eternizadas que residem em paraísos perdidos, onde mora o passado do presente que pretende ser futuro para não virar ilusão, é, em síntese o que deixamos quando vamos embora.
Raimunda Alves Melo
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